quinta-feira, 9 de junho de 2016

Fui ao shopping hoje: precisava pagar uma conta que vence na segunda-feira e não teria tempo de ir durante a semana. Como não recebi a fatura, loterica também não foi uma opção cogitada. Esqueci que hoje é sábado e fui ao shopping. Esqueci que é fim de semana a noite e fui. Vocês falam tanto de crise, mas, meu deus, tão bem felizes lotando shopping enquanto eu só queria mesmo era pagar a minha conta e, no máximo, comer umas onion rings, em! Paguei a conta porque não tinha outra escolha. Não comi nada, no entanto. Não tive paciência nenhuma pra enfrentar a fila enorme do fast food depois de já enfrentar, lá na entrada, um bando de crianças (todas barradas pelos seguranças) tantando passear ali com seus bonés estranhos e identidades falsas. Não tive paciência nenhuma de comer minha bobeirinha preferida depois de trombar com tantos fotógrafos de dinossauros robotizados (e sair sem querer em várias fotos, desculpem), tantas pessoas andando devagarinho quase parando, apontando vitrines, tirando selfies na porta do cinema e bloqueando a passagem naquele corredor enorme. Queria me esconder, uma capa da invisibilidade, sumir por uns instantes. Perdi a fome vendo aquela multidão de gente. E eu nunca perco a fome. Tudo por causa de uma conta (a gente se vende por tão pouco, né?). Um dia eu achei que gostava de shopping, hoje, agora, sem fome e com uma dor enorme no estômago, tive a certeza de que detesto.
Eu adoro festa a fantasia. Adoro mesmo. E o ibilce tem uma que é a melhor festa a fantasia do mundo inteiro, a Psicodelia. Eu me preparo pra ela por meses. Acaba uma e já tô programando a fantasia da próxima. Esta festa vai acontecer na semana que vem e agora nessa semana, justo nessa, eu fiquei doente. Gastei o dinheiro do convite, do busão e mais uma pequena fortuna com remédios. Não foi com comida, nem brusinhas novas, nem maquiagem (já que esqueci a minha em Campos e desde abril tenho andado com a cara limpíssima). O dinheiro da minha festa preferida foi gasto com a minha garganta problemática. 

Acho que ser adulto é isso mesmo: gastar grana de alegria com tristezas.
Quebrei a alça da minha caneca preferida. Depois, chorando baixinho, juntei todos os incontáveis pedaços da minha recordação. Impossível de se consertar, joguei os cacos no lixo e fiz um café. Aos prantos também fui embora de casa, mudei de cidade para estudar. Cheia de saudade, junto os meus pedaços todos os dias e sobrevivo longe do jeito que dá. Faço um café. Acho que virar adulto é assim mesmo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Outro dia eu estava na sala de aula quando uma aluninha abriu a porta e chamou baixinho: “teacher, você pode vir aqui AGORA?”. Deixei a caneta preta em cima de mesa, pedi silêncio e caminhei depressa. A garota virou o bumbum pra mim e mostrou a manchinha de sangue na calça. Perguntei se ela sabia o que era, ela balançou a cabeça e sorriu meio sem graça. Tirei da bolsa um absorvente, entreguei à menina e disse: “pode ficar tranquila, acontece com todas nós”. Ela me abraçou, pediu para não contar a ninguém e saiu correndo em direção ao banheiro. Uns meninos, que espiavam a cena escondidos do outro lado do corredor, assim que a viram saindo, caminharam desconfiados para perto de mim e perguntaram: “o que aconteceu, teacher?”. Respeitando o pedido de segredo, preferi não contar: “nada não, tá tudo bem!”. Eles insistiram, claro. Para acabar logo com o assunto, proferi: “é coisa de mulher e só mulher pode saber”. Os meninos, todos com 8/9 anos, fizeram bico a princípio, mas entenderam o recado e voltaram para o parque, correndo como sempre.

 Lembrei na hora de alguns “amigos” e de como se comportam quando falamos que o feminismo é “coisa de mulher e só mulher pode saber”: a maioria, infelizmente, não entende o recado. Eles querem saber mais, opinar mais, ser o centro das atenções, querem nos calar, diminuir a nossa luta, nos chamar de loucas. Sabe, moços, vocês deviam aprender com meus alunos de 8/9 anos e deixar que decidamos o que é nossa decisão. 

O feminismo “é coisa de mulher", por mulher, para mulher. Nessa luta lugar de homem é no parque brincando, respeitando o nosso espaço de uma vez.